Gosto por demais dessa definição para a saudade. Talvez porque eu sinta o seu significado. Ao menos, para mim, a saudade é sempre um sentimento misto de vazio com plenitude. Procura e encontro. Passado e presente. Falta e abundância. Ausência e presença.
Porém, não é sobre o tema da saudade o foco de minhas últimas reflexões, mas o espaço que ocupamos na vida de outrem. A saudade vêm a vista justamente porque ela revela um espaço ocupado e hoje desocupado por algo ou alguém em um determinado período da nossa história. E a saudade é justamente esse "dar-se conta" que carregamos em nós um espaço hoje desabitado, porém, um dia já feito morada.
Várias situações tem me feito pensar sobre o espaço que ocupamos na vida de alguém. Além disso, tenho tido a sensação de sempre estar invadindo o espaço do outro quando tento iniciar novos relacionamentos. Digo "invadindo" pelo fato de sentir que as pessoas não estão abertas a receber a visita de estranhos em sua vida, pois sempre olham desconfiadas e nunca parecem crer na atitude ingênua de fazer amizade pela amizade sem nenhum outro interesse em vista. E isso se dá principalmente quando nos aproximamos de alguém do sexo oposto. Volta e meia me pego sendo julgado como galanteador (pena que seja um julgamento precipitado, já que sou péssimo na arte da conquista, hehe).
Abrindo o jogo, o fato que realmente me fez pensar sobre isso foi a minha empreitada na tentativa de cativar um coração. Mais uma vez deparei-me com a frase "você é uma pessoa especial" e (pelo menos no momento) não saiu disso. Caramba! Devo ser tão especial a ponto de dever ser guardado num acervo de raridades, pois lá ninguém pode tocar, e em alguns casos nem fotografar, os objetos tidos como especiais.
Resolvi dar um tempo nessa empreitada para pensar e repensar, afastei-me por um pouco do meu objetivo desejado, e nesse encontro de tempo x espaço surgiu a saudade: esse "dar-se conta" da ausência da beleza já feita morada em meu coração.
Todavia, questiono-me se a saudade também se faz presente nesse outro coração. E quanto a isso tenho sérias dúvidas, porque me falta o dom da telepatia e leitura de pensamentos para saber o que ocorre na misteriosa, terna e bela alma por mim desejada.
Ocorre comigo que, quando sinto saudades, procuro preencher esse vazio sentido não apenas com dados da memória. Sempre recorro a algo material para tornar mais viva a presença da recordação repentina e arrebatadora. Primeiro para tornar mais clara as lembranças; segundo para prolongar sua estadia em meu coração. Por isso me apego a fotos, presentes, e-mails, bilhetes, e tudo aquilo capaz de me transportar ao mundo da beleza por um tempo escondida, jamais esquecida.
Mas a força maior da saudade está em levar-nos novamente ao encontro do antigo inquilino, agora ausente de seu lar. Para mim a saudade não é algo estático, impassível. Ela vem permeada de euforia e é altamente passional. Não creio na saudade que nos faz ficar imóveis, jogados no sofá apenas lembrando. Acredito na saudade que nos leva a presença e reecontro, sempre que possível, do nosso objeto ansiado.
E pela ausência "física" desse coração tão desejado por mim, inclino-me a concluir que não habitei um espaço significativo, como intensionava, para fazer morada. Creio sim na minha estadia nesse coração; contudo, uma estadia nos moldes de um pacote de viajem de turismo oferecida por alguma agência: com data marcada de ida e volta e com roteiro definido. Inesquecível para quem foi; apenas mais um grupo de turistas para quem ficou.
Independe de nós, inquilinos, arbitrar sobre tempo de nossa morada no coração de alguém. Entretanto, cabe a nós ofecerer sempre o melhor espaço para os desejosos em habitar na nossa vida, para que eles possam sempre fazer-se presente; presença mesmo na ausência revelada na saudade.
[Texto do Genial - Rubem Alves]
Um comentário:
Gosto muito Renata, desse texto do Miguel Falabella....
Saudade
“Em alguma outra vida, devemos ter feito algo de muito grave para sentirmos tanta saudade."
Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é a saudade. Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa. Doem essas saudades todas. Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Saudade é não saber mesmo! Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche. Saudade é não querer saber se ela está com outro, e ao mesmo tempo querer. É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso... É não querer saber se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer. Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo o que você, provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler...
Miguel Falabella.
Atenente semana pra ti amiga..
Hod.
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